Georg Friedrich Hegel
(1770 - 1831)

A contribuição de Hegel, último dos grandes criadores de sistemas filosóficos dos tempos modernos, representou a culminância do idealismo alemão e lançou as bases da maior parte das tendências filosóficas e ideológicas posteriores, como o marxismo, o existencialismo e a fenomenologia.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart, em 27 de agosto de 1770 e recebeu esmerada educação cristã. Em 1788 ingressou na Universidade de Tübingen a fim de se preparar para receber ordens. Durante dois anos se consagrou à filosofia. Seu diploma de formatura assinalava que, embora fosse notável sua dedicação a essa disciplina, o mesmo não ocorria quanto aos estudos teológicos. Registrava-se também que sua expressão oral era deficiente, problema que o afligiu ao longo de toda a vida. Entre seus colegas em Tübingen estavam o poeta Friedrich Hölderlin e o filósofo Friedrich Schelling, que partilhavam sua admiração pela tragédia grega e pelos ideais da revolução francesa.

Ao terminar o curso, Hegel não seguiu a carreira eclesiástica, mas preferiu dedicar-se ao estudo da literatura e da filosofia gregas, ao mesmo tempo em que dava aulas como professor particular. Viveu depois em Berna, na Suíça, onde, inspirado pela leitura de seu compatriota Immanuel Kant, escreveu vários ensaios sobre o cristianismo, que só seriam publicados em 1907. No fim de 1796, Hegel mudou-se para Frankfurt, onde Hölderlin lhe conseguira um lugar de preceptor. As esperanças de colaborar com Hölderlin, porém, foram frustradas pela loucura que acometeu o poeta. O fato provocou em Hegel uma crise de depressão, que ele combateu entregando-se ao trabalho.

Com o tempo, o período também lhe proporcionou uma "emancipação" do pensamento kantiano e um ponto de partida para seu próprio sistema filosófico. Em 1801, Hegel se instalou como Privatdozent (livre-docente) na Universidade de Jena. Ali viveu em clima romântico e estudou o idealismo de Johann Gottlieb Fichte e de Schelling. Suas conclusões se expressariam na obra Differenz des Fichte'schen und Schelling'schen Systems der Philosophie (1801; Diferença dos sistemas filosóficos de Fichte e Schelling), em que creditava a ambos os pensadores a virtude de tentar superar o dualismo kantiano, embora sem chegar a elaborar sistemas coerentes.

Em 1805 Hegel foi nomeado professor-visitante da universidade. O triunfo napoleônico em Jena, no ano seguinte, não o abalou muito, pois via na Prússia apenas uma burocracia corrupta e arrogante. Foi nessa época que publicou Phänomenologie des Geistes (1807; Fenomenologia do espírito), talvez sua obra mais brilhante. Apesar disso, foi esse também o pior momento de sua instável situação econômica. Por isso aceitou a direção de um jornal, o Bamberger Zeitung, que depois de um ano deixou para voltar à filosofia, como reitor do Aegidiengymnasium, em Nuremberg.

Hegel casou-se em 1811. Entre 1812 e 1816 surgiram os dois tomos de sua Wissenschaft der logik (Ciência da lógica) e nesse último ano foi chamado para a Universidade de Heidelberg, como professor contratado. Em 1817 escreveu a Encyklopädie der philosophischen Wissenschaften in Grundrisse (Enciclopédia das ciências filosóficas em resumo) e, no ano seguinte, aceitou substituir Fichte na Universidade de Berlim. Lecionou ali pelo resto da vida e publicou Grundlinien der Philosophie des Rechts (1821; Aspectos fundamentais da filosofia do direito). Depois de sua morte, foram publicadas várias coletâneas de aulas sobre religião, estética e história da filosofia.

Dialética Hegeliana

Hegel foi o maior expoente do "idealismo alemão", que, como decorrência da filosofia kantiana, e em oposição a ela, começou com Fichte e Schelling. Esses dois pensadores tinham procurado tratar a realidade como baseada num só princípio, para superar o dualismo de sujeito e objeto, estabelecido por Kant, segundo o qual só era possível conhecer a aparência fenomenológica das coisas, não sua essência.

Para Hegel, o fundamento supremo da realidade não podia ser o "absoluto" de Schelling nem o "eu" de Fichte e sim a "idéia", que se desenvolve numa linha de estrita necessidade. A dinâmica dessa necessidade não teria sua lógica determinada pelos princípios de identidade e contradição, mas sim pela "dialética", realizada em três fases: tese, antítese e síntese. Assim, toda realidade primeiro "se apresenta", depois se nega a si própria e num terceiro momento supera e elimina essa contradição.

De acordo com as três fases do processo dialético, que em outras ocasiões Hegel denominou simplicidade, cisão e reconciliação, a realidade evolui e forma repetidamente novas contradições que encontram solução. Esta, por sua vez, dá origem a contradições novas e a novas soluções. Segundo esse esquema, a idéia lógica, o princípio, converte-se em seu contrário, a natureza, e esta em espírito, que é a "síntese" de idéia e natureza: a idéia "para si". A cada uma dessas etapas correspondem, respectivamente, a lógica, a filosofia natural e a filosofia do espírito. A parte mais complexa do sistema é essa última: o espírito se desdobra em "subjetivo", "objetivo" e "absoluto".

O espírito subjetivo é o de cada indivíduo, e o espírito objetivo é a manifestação da idéia na história: sua expressão máxima é constituída pelo estado, que realiza a razão universal humana, síntese do espírito subjetivo e do objetivo no espírito absoluto. Este alcança o máximo do conhecimento de si mesmo, de maneira cada vez mais perfeita, na arte, na religião e na filosofia. Assim, o espírito só chega a se compreender como tal no homem, já que existe "unidade e identidade da natureza divina e da natureza humana".

O idealismo hegeliano marcou profundamente a história da filosofia e sua influência pode ser detectada em escolas muito diferentes umas das outras como o existencialismo e a fenomenologia. Além disso, o desenvolvimento da dialética mediante a substituição da idéia pela matéria foi uma tese central no pensamento de Karl Marx. Não é exagero afirmar, portanto, que a obra de Hegel implantou um quadro de referências indispensáveis para a compreensão das abordagens filosóficas posteriores. Hegel morreu em 14 de novembro de 1831, em Berlim, vítima de uma epidemia de cólera.

     
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