Panteísmo


Dos filósofos gregos à filosofia contemporânea, o panteísmo assumiu ao longo da história várias formas doutrinárias, sempre polêmicas.

Panteísmo (do grego pan, "tudo", "todas as coisas", e theós, "deus") é a doutrina que afirma a identidade substancial de Deus e do universo, os quais formariam uma unidade e constituiriam um todo indivisível. Para os panteístas, Deus não é transcendente ao universo e dele não se distingue nem se separa. Pelo contrário, é-lhe imanente, confunde-se com ele, manifesta-se nele e nele se realiza como uma só realidade, total e substancial.

O panteísmo é um monismo substancialista imanentista. Monismo porque pretende que o conjunto de todas as coisas pode ser reduzido à unidade; substancialista por entender que todo o real é de caráter substancial, ou seja, é substância; e imanentista porque sua afirmação de que Deus é imanente à natureza implica que a ação de Deus se confunde com a da natureza. As formas doutrinárias panteístas mais importantes e significativas se encontram no panteísmo clássico, que considera Deus a única realidade, e o universo uma mera manifestação de Deus. O panteísmo materialista ou naturalista parte do universo para Deus, e vê no universo a própria realidade de Deus, que nada mais seria do que a totalidade das coisas que existem, das quais depende para realizar-se.

Entre o panteísmo clássico e o naturalista existem muitas versões diferentes do panteísmo, desde o panpsiquismo, que atribui consciência à natureza como um todo, até o panteísmo acósmico, que vê o universo como mera aparência, irreal em última instância; e numa vasta gama que vai da corrente racional neoplatônica, ou emanacionística, à corrente mística e intuitiva. O panteísmo oriental acentua o caráter vivencialmente religioso: toda a natureza está animada pelo alento divino, e por isso é como se fosse o corpo da divindade, que como tal deve ser respeitada e venerada. As doutrinas hinduísta e budista combinam os diversos tipos de panteísmo em seus livros sagrados: no Upanishad, no Bhagavadgita e nos Vedas. Este último apresenta a imagem da divindade como um mar, em que os seres são as ondas que participam da totalidade.

Sistemas Clássicos

A forma assumida pelo panteísmo clássico vê no mundo simples emanação, revelação ou realização de Deus, sem realidade própria independente, nem substância permanente, que não sejam a própria substância e demais atributos de Deus. Para os estóicos, o universo é o próprio Deus, como qualidade de toda substância existente ou a existir, imortal e não gerado, criador da ordem universal, que em si consuma toda a realidade e a gera continuamente. Deus "impregna todo o universo e toma vários nomes conforme as matérias diferentes em que penetra". No século III da era cristã, o panteísmo assume sua forma mais elaborada no neoplatonismo de Plotino. O mundo emana necessariamente de Deus, tal como a luz emana necessariamente de sua fonte. O ser gerado existe junto com o gerador, dele não se separa e é meramente sua parte ou aspecto.

No século IX, no início da escolástica cristã, João Escoto Erígena defendeu a idéia de que Deus seria supersubstância, da qual emana o universo, como substância simples, como manifestação sua, como teofania. Na Renascença, Giordano Bruno retomou as idéias neoplatônicas e considerou Deus como natureza, como causa e princípio do universo.

Sistemas Modernos

Modernamente, foi Spinoza que concebeu a forma mais completa e elaborada do panteísmo. Deus e natureza são a mesma coisa, mas enquanto Deus é naturante, a natureza é naturata (gerada). O universo não só é a emanação e a manifestação de Deus, mas é sua própria realização, na ordem de todas as coisas.

Hegel denominou o panteísmo de Spinoza de "acosmismo" (negação da existência de um universo fora de Deus). Segundo ele, Spinoza não confunde Deus com a natureza e com o universo finito, nem considera Deus o universo. Pelo contrário, nega a realidade do universo, vendo em Deus a única realidade. Na filosofia contemporânea há exemplos de doutrinas panteístas e místicas, ainda que em pensadores voltados para outros campos do conhecimento, como Henri Bergson em Les Deux sources de la morale et de la religion (1932; As duas fontes da moral e da religião), embora tal panteísmo tenha sido negado por seus intérpretes católicos. Outro exemplo é Alfred North Whitehead, em Process and Reality, an Essay in Cosmology (1929; Processo e realidade, um ensaio de cosmologia). Os críticos do panteísmo acusam-no de ser uma espécie de ateísmo, que nega a pessoalidade de Deus, como anterior, superior e externo ao próprio universo.

     
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