Neokantismo


Um princípio metodológico foi comum a todos os pensadores neokantianos: a filosofia não é apenas uma convicção ou visão pessoal do mundo, mas uma ciência cujas bases ainda estavam por ser lançadas.

Neokantismo é um movimento filosófico que inclui várias tendências, direções, escolas e orientações influenciadas pela filosofia crítica de Kant. Surgiu na Alemanha a partir da segunda metade do século XIX como reação ao idealismo alemão pós-kantiano e ao positivismo. Uma de suas principais características é fazer do estudo das possibilidades do conhecimento -- e principalmente do conhecimento científico -- a base crítica de toda investigação filosófica.

A formulação do neokantismo seguiu-se a uma fase de incentivo ao estudo de Kant, com exposições sobre sua obra, acrescidas de comentários, críticas e exegeses filológicas, com destaque para o trabalho de Kuno Fischer, que dedicou os dois últimos volumes de sua Geschichte der neueren Philosophie (1852-1877; História da filosofia moderna) à obra de Kant. Em seu sentido mais fecundo, porém, o retorno a Kant foi promovido por Otto Liebmann e Friedrich Albert Lange.

Filósofo de influência decisiva na formação do neokantismo, Liebmann questionou o dogmatismo metafísico e a especulação romântica e orientou sua obra filosófica no sentido do realismo crítico, ao enfatizar a independência do dado em relação ao sujeito transcendental. Sua principal obra foi Kant und die Epigonen, eine kritische Abhandlung (1865; Kant e seus epígonos; um ensaio crítico). Lange escreveu Geschichte des Materialismus und Kritik seiner Bedeutung in der Gegenwart (1866; História do materialismo e crítica de sua significação nos tempos presentes), considerada uma das grandes obras filosóficas em língua alemã, em que demonstra que Kant acabou não apenas com as metafísicas idealistas, mas sobretudo com o materialismo, que pretendia ser uma metafísica às avessas.

Também ligados às origens do neokantismo estão os nomes do cientista Hermann von Helmholtz e do filósofo Alois Riehl. Helmholtz, que defendia a interpretação psicofisiológica do sujeito transcendental, à maneira de Lange, tentou harmonizar a teoria da percepção espacial de Kant com pesquisas fisiológicas da percepção sensorial. Alois Riehl procurou sintetizar o kantismo com o positivismo; opôs-se a qualquer espécie de metafísica e reduziu a filosofia à crítica do conhecimento, entendido como a síntese das relações entre os fenômenos.

No início do século XX, o neokantismo atingiu seu ápice com a escola de Marburg, que incluía Hermann Cohen e Paul Natorp. Esses filósofos rejeitaram o naturalismo de Helmholtz e de outros e reafirmaram a importância do método transcendental. Cohen defendeu uma doutrina neokantiana que pode chamar-se de idealismo objetivo, segundo a qual o pensamento é idêntico ao ser e todo real é absolutamente racional. Entre os adeptos da escola destacaram-se ainda Rudolf Stammler, adepto de uma doutrina formalista do direito, e Franz Staudinger e Karl Vorländer, que tentaram aproximar o neokantismo do marxismo.

O racionalismo da escola de Marburg foi criticado pela escola de Baden, também chamada de Süddeutsche Schule (escola do sul da Alemanha), que elaborou a distinção entre as ciências da natureza e as ciências do espírito, entre a natureza e a cultura, entre o ser e o dever ser, e entre o método generalizador e o descritivo e individualizador. Seus expoentes incluem Wilhelm Windelband, Heinrich Rickert e Bruno Bauch.

A grande influência que essas duas escolas tiveram na Alemanha e em outros países estendeu-se até aproximadamente 1913. Seu declínio se deu com o advento da fenomenologia, do neopositivismo e das chamadas "filosofias de vida", mas também porque os adeptos do neokantismo inseriram gradualmente sua filosofia crítica em sistemas mais abrangentes e se filiaram a tendências diversas.

     
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