Semiótica


O campo de aplicação da semiótica não se restringe aos meios de comunicação de massa, mas foi sobretudo o grau de complexidade e abrangência alcançado por eles que motivou, desde a década de 1980, o desenvolvimento dos estudos nesse campo.

Semiótica é a ciência que estuda os signos e as leis que regem sua geração, transmissão e interpretação. Seu objeto compreende, portanto, todos os sistemas de comunicação animais ou humanos e, dentro desses últimos, tanto a linguagem verbal como as entonações emotivas, os gestos e qualquer atividade comunicativa ou significativa -- artes, moda, publicidade, rituais, sinalização de trânsito etc. A abrangência desses temas, bem como a dificuldade para limitar o estudo de tão diversas manifestações a princípios de análise comuns, e especialmente as divergências acerca do significado de termos básicos como "signo" e "comunicação" motivaram acirradas polêmicas entre as diversas correntes de pensamento quanto ao objeto e à metodologia da semiótica. Algumas escolas européias, como a francesa, preferem o termo "semiologia" para designar a teoria geral dos signos. Ainda que, na prática, essas duas denominações sejam usadas indistintamente, certos autores, como Lévi-Strauss, consideram que a semiótica está mais voltada para os signos da natureza, enquanto a semiologia se ocupa dos signos da cultura.

História e Conceitos Básicos

Os médicos da antiga Grécia já utilizavam o termo semiótica para aludir à especialidade geralmente conhecida como sintomatologia, mas o primeiro a chamar semiótica à ciência dos signos foi o filósofo britânico John Locke, que no final do século XVII identificou-a com a lógica. Os primeiros esboços de um programa de estudos semióticos, segundo a nova acepção, se realizaram simultânea e independentemente, no final do século XIX, pelo lingüista suíço Ferdinand de Saussure e pelo filósofo e lógico americano Charles Sanders Peirce.

No Cours de linguistique générale (1916; Curso de lingüística geral), compilação de lições de Saussure editada postumamente, menciona-se a possibilidade de uma nova ciência, da qual a lingüística constituiria somente uma parte. O autor chamou a nova ciência de semiologia (do grego semeion, signo), cujo objeto de estudo seria "a vida dos signos no seio da vida social" e que buscaria saber "em que consistem os signos e por que leis se regem". Peirce formulou, em numerosos artigos publicados a partir de 1931, os princípios de uma teoria geral dos signos, a semiótica, aplicável a todas as atividades humanas.

As idéias desses dois autores coincidiam num ponto básico: a convicção de que o pensamento e a comunicação se fundamentam no emprego dos signos. Cada um dos teóricos, porém, tinha uma conceituação diferente para os signos. Interessado sobretudo na lingüística, pois para ele a semiologia era uma mera "possibilidade" futura, Saussure concebia o signo como combinação de um significante (uma expressão) e um significado (um conceito), unidos por uma relação arbitrariamente estabelecida. Peirce admitia três componentes: o representante, o objeto denotado -- termos que equivaleriam respectivamente ao significante e ao significado -- e o intérprete.

Saussure fazia também distinção entre o signo lingüístico, que é arbitrária e convencionalmente fixado, e o símbolo, caracterizado por uma vinculação mais ou menos evidente entre significante e significado. Peirce admitia três categorias de signos: ícones, que apresentam alguma semelhança com seu objeto, como por exemplo um desenho; índices, em que se evidencia uma relação de causa e efeito (a fumaça seria um índice do fogo); e símbolos, nos quais a relação entre objeto e representante é arbitrária e à qual pertenceriam os signos lingüísticos. As teses de Peirce foram reelaboradas pelo filósofo americano Charles Morris no ensaio Foundation of the Theory of Signs (1938; Fundamentos da teoria dos signos), que estabelece a divisão clássica da semiótica em três áreas: sintaxe, que estuda as relações dos signos entre si; semântica, que aborda as relações entre os signos e os objetos que denotam; e pragmática, que se ocupa das relações entre os signos e seus usuários ou intérpretes.

Problemática Geral

Embora a maior parte das correntes semióticas tenha aceitado em suas linhas essenciais a orientação proposta por Peirce, suas interpretações e propostas variam muito. De maneira geral, pode-se dizer que os autores da escola americana mostram maior interesse pelos problemas de formalização lógica, enquanto os europeus - entre os quais se destacaram o francês Georges Mounin e o belga Eric Buyssens - se concentraram no estudo dos processos comunicativos.

As análises semióticas sobre os meios de comunicação de massas e os diversos aspectos da vida cotidiana foram iniciadas na década de 1960 por teóricos franceses como Roland Barthes e Christiaan Katz, que se inspiraram no modelo do estruturalismo lingüístico para estudar as linguagens da moda, da publicidade, do teatro e até mesmo dos espetáculos de luta livre. Outros semióticos, como o italiano Umberto Eco e o venezuelano Luis Prieto, ampliaram as perspectivas dessa ciência mediante a observação dos contextos sociais, ideológicos e políticos nos quais se produzem os signos.

O problema fundamental que se apresenta à semiótica é sua própria vocação interdisciplinar e a heterogeneidade de seus conteúdos. É muito difícil estabelecer bases metodológicas que possam ser indiscriminadamente aplicadas a questões tão diversas como, por exemplo, os movimentos pelos quais as abelhas se comunicam, os costumes culinários e as estruturas narrativas, o que faz com que os semióticos se vejam freqüentemente obrigados a recorrer a esquemas conceituais, próprios da lingüística, com o risco de adulterar a autêntica natureza de outros sistemas de signos.

Por isso, muitos autores estabelecem:


(1) um corpo teórico em que se definem conceitos básicos como "signo", "sistema" e "comunicação", e se estabelecem princípios válidos universalmente; e
(2) uma semântica descritiva, que fixa os critérios de descrição e construção de unidades dos processos comunicativos.
     
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