Ensaio


Gênero literário de difícil caracterização, o ensaio surgiu no século XVI em reação às minuciosas exposições analíticas das questões filosóficas, históricas e humanas.

De modo geral, o ensaio é uma forma literária, uma composição usualmente em prosa, de pequena extensão e assunto limitado. De início, era uma breve digressão pessoal acerca de pessoas, fatos, paisagens e estados de alma. Situando-se entre o poético e o didático, o ensaio distingue-se pelo manejo a um tempo das idéias e do estilo e caracteriza-se por uma estrutura baseada na flexibilidade formal e na subjetividade.

A indiscutível paternidade do termo em sua acepção moderna cabe a Michel de Montaigne, escritor francês do final do século XVI. Ao adotar o título Essais (1580; Ensaios) para seu livro de reflexões morais, deu ênfase à idéia de que cultivar o gênero significava expressar idéias e experiências pessoais. Na Inglaterra, Francis Bacon, primeiro grande ensaísta inglês, publicou Essays (1597; Ensaios).

Os ensaios de Montaigne e Bacon - os do primeiro informais, subjetivos e caprichosos em sua fantasia e em seus achados, e os do segundo formais, objetivos, metódicos e estruturados - originaram duas correntes distintas no gênero ensaístico: o ensaio familiar ou informal e o formal ou discursivo. O primeiro adota um tom leve, impressionista, e procura exprimir uma reação pessoal e íntima diante da realidade, sem estrutura clara ou preestabelecida. Já o segundo é peça longa, concludente, escrita em linguagem austera, de intenção lógico-discursiva e de especulação nitidamente intelectualista.

Na Inglaterra o ensaio floresceu vigorosamente, embora desde Bacon até a segunda metade do século XVII o gênero tivesse caído em quase absoluto esquecimento. Em 1666, o filósofo empirista John Locke publicou Essay Concerning Toleration (Ensaio sobre a tolerância). Mas o reformador do ensaio inglês foi o poeta Abraham Cowley, com "Several Discourses by Way of Essays" ("Vários discursos à maneira de ensaios) e "Of Myself" ("Sobre mim mesmo"), incluídos em Essays, só publicados em 1906.

Em princípios do século XVIII o ensaio informal invadiu o jornalismo inglês, com Daniel Defoe. Estava aberto o caminho para a contribuição decisiva de Joseph Addison e Richard Steele, que levaram o gênero à perfeição estilística e a um êxito sem precedentes, nas páginas dos periódicos The Tatler (1709-1711), The Spectator (1711-1714) e The Guardian (1713), que eles próprios fundaram e dirigiram, e em cujas páginas brilharam os poetas Alexander Pope (o único a produzir ensaios em verso) e John Gay. Addison e Steele influenciaram toda uma geração de mestres ingleses, ao longo dos séculos XVIII e XIX. Outro notável ensaísta inglês do século XVIII foi Samuel Johnson, que, praticamente sozinho, fundou e dirigiu as revistas The Rambler (1750-1752), Adventurer (1752) e The Idler (1759). Destacaram-se também Henry Fielding e Oliver Goldsmith, autor de Citizen of the World (1760; Cidadão do mundo).

Na França do século XVIII não havia muitos ensaístas, exceção feita a Montesquieu, em Essai sur le goût (1748; Ensaio sobre o gosto), e Voltaire, em Essai sur les moeurs et l'esprit des nations (1756; Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações), os dois maiores expoentes. No século XIX, entre os grandes ensaístas franceses destacaram-se Hippolyte Taine, autor de Essais de critique et d'histoire (1858; Ensaios de crítica e história), e Charles Augustin Sainte-Beuve, com suas Causeries de lundi (1851-1862; Conversas de segunda-feira) e Nouveaux lundis (1863-1870; Novas segundas-feiras).

Na Inglaterra, o ensaísmo conservou suas virtudes durante todo o século XIX. Foram grandes ensaístas: Charles Lamb, William Hazlitt, Thomas Carlyle, Thomas Macaulay, William Thackeray, Walter Bagehot, John Ruskin e muitos outros. O século XIX assinalou também o aparecimento de bons ensaístas nos Estados Unidos, como Ralph Emerson, Washington Irving e James Lowell. Outros foram o italiano Francesco de Sanctis e Benedetto Croce, embora o melhor de Croce já pertencesse ao século XX. Em Portugal, o ensaísmo restringiu-se a Antero de Quental e Alexandre Herculano.

No século XX destacaram-se os ingleses Gilbert Chesterton, Aldous Huxley e Thomas Eliot; o austríaco Stefan Zweig e o alemão Thomas Mann; os espanhóis Miguel de Unamuno e José Ortega y Gasset; os franceses Remy de Gourmont, Paul Valéry e Albert Camus; os portugueses Antonio Sérgio, Jorge de Sena e José Régio; e os brasileiros Augusto Meyer e Alceu Amoroso Lima.

     
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