Voltaire foi um dos homens mais influentes do século XVIII. Os monarcas esclarecidos sempre lhe pediram conselhos, seus livros foram lidos em toda a Europa e suas peças representadas nos mais diversos teatros. Muitas de suas idéias triunfaram de tal modo que acabaram por se tornar lugares-comuns.
François-Marie Arouet, conhecido como Voltaire, nasceu em Paris em 21 de novembro de 1694. Filho de abastada família burguesa, estudou com os jesuítas no Colégio Louis-le-Grand em Paris. Freqüentou a Société du Temple, de libertinos e livres-pensadores. Encarcerado por 11 meses na Bastilha, como responsável por um panfleto satírico que alegou não ter escrito, aproveitou o tempo de prisão para criar sua primeira tragédia, Oedipe (Édipo), cujo sucesso, em 1718, lhe abriu as portas dos meios intelectuais.
Em conseqüência de um desentendimento com o influente duque de Rohan-Chabot, Voltaire foi obrigado a exilar-se na Inglaterra, onde a partir de 1726 viveu três anos. Escreveu então um dos livros que mais o projetaram, as Lettres philosophiques ou Lettres sur les anglais (1734; Cartas filosóficas ou cartas sobre os ingleses), nas quais faz espirituosas comparações entre a liberdade inglesa e o atraso da França absolutista, clerical e obsoleta. Condenado esse livro pelas autoridades, refugiou-se no castelo de Cirey, e aí passou dez anos com sua amante, a marquesa du Châtelet. Em 1744 voltou para Paris e, dois anos mais tarde, foi eleito para a Academia Francesa e introduzido por Mme de Pompadour na corte.
Em 1750 aceitou convite do rei Frederico II o Grande, da Prússia, para viver na corte de Potsdam. Mas em 1753, depois de um conflito com o rei, retirou-se para uma casa perto de Genebra. Tinha feito entrementes grandes negócios, inclusive especulações na bolsa. Em 1758 comprou o castelo e a fazenda de Ferney, perto de Genebra, onde instalou uma fábrica de tecidos e outra de relógios, e aí ficou até o fim da vida. Tornou-se tão rico que deixou, ao morrer, uma renda anual de 350.000 libras.
Obra. Voltaire escreveu como poucos: a primeira edição de suas obras completas, organizada por Beaumarchais, tem setenta volumes. Fracassou como poeta: suas numerosas odes, epístolas versificadas, epigramas etc. são muito espirituosas, mas totalmente antipoéticas. Foi na prosa que se mostrou grande escritor, com um estilo de correção e fluência admiráveis, considerado um paradigma da língua francesa. Seu teatro, em que o sucesso de Oedipe foi confirmado por peças como Zaïre (1732) e Alzire (1736), defesas da tolerância, tornou-se desinteressante com o tempo.
Seus livros de história, porém, têm alta categoria e ainda são legíveis. A Histoire de Charles XII (1731; História de Carlos XII) já é bem documentada e interpretada. Le Siècle de Louis XIV (1751; O século de Luís XIV) foi a primeira obra historiográfica a incluir a história das letras e das artes. O Essai sur les moeurs et l'esprit des nations (1756; Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações) foi a primeira tentativa de uma história universal do ponto de vista do liberalismo religioso e político.
Com o célebre Dictionnaire philosophique (1764; Dicionário filosófico), Voltaire se aproximou dos enciclopedistas, salvo no tocante às teorias estéticas, em que sempre se manteve classicista. À propaganda de seu racionalismo serviram os chamados "romances" ou "contos filosóficos", Zadig (1747), Micromégas (1752) e sobretudo Candide ou l'optimisme (1759; Candide ou o otimismo), sua obra-prima.
Voltaire detestava a Igreja Católica e todas as formas de intolerância, mas não foi ateu. Foi deísta, embora alegando o argumento pouco sincero de que Deus, se não existisse, deveria ser inventado para refrear os maus instintos das massas. Defendeu a burguesia contra a aristocracia feudal e antecipou a revolução francesa como revolução da burguesia. Foi festejado entusiasticamente em fevereiro de 1778, quando foi de Ferney para Paris, mas ali morreu pouco depois, em 30 de maio de 1778.