Defensor da rebelião contra a opressão, que levou ao conceito de guerra justa, são Clemente de Alexandria combateu também o racismo, que via como base moral da escravidão.
Tito Flávio Clemente nasceu em Atenas por volta do ano 150. Convertido ao cristianismo por seu mestre Panteno, sucedeu-lhe como líder espiritual da comunidade cristã de Alexandria, onde permaneceu durante vinte anos. Entre suas obras de ética, teologia e comentários bíblicos destaca-se a trilogia formada por Exortação, Pedagogo e Miscelâneas. Nelas combateu os hereges gnósticos, que defendiam a possibilidade de um conhecimento puramente racional e filosófico de Deus. Insistiu, ao mesmo tempo, em oposição aos cristãos intransigentes para quem a fé era o único instrumento de conhecimento e de salvação, que a filosofia era boa e desejada pela vontade divina como preparação para o saber revelado.
Estabeleceu o programa educativo da escola catequética alexandrina, que séculos mais tarde serviria de base ao trivium e ao quadrivium, grupos de disciplinas que constituíam as artes liberais na Idade Média. No que se refere à contraposição entre a lei do mundo e a lei dos Evangelhos, recorreu à teoria das duas cidades, segundo a qual, em caso de conflito, o cristão deve preferir a lei divina. Santo Agostinho retomaria essa teoria em A cidade de Deus.
São Clemente defendeu a teoria da causa justa para a rebelião contra o governante que escravizasse seu povo. Sobre a questão da riqueza, escreveu o Discurso sobre a salvação do homem rico e discorreu também sobre temas como o bem-estar, a felicidade e a caridade cristã. Durante a perseguição aos cristãos pelo imperador romano Sétimo Severo no ano 201, Clemente transferiu seu cargo na escola catequética ao discípulo Orígenes. Foi acolhido na Palestina por Alexandre, bispo de Jerusalém, e morreu naquela região entre 211 e 215. Venerado como santo pela igreja cristã ocidental, teve algumas de suas teorias consideradas heréticas pela igreja oriental.