Estruturada em torno de um tema central -- a busca da certeza da imortalidade -- a obra do filósofo espanhol Miguel de Unamuno constituiu um esforço para dotar de sentido a existência humana, sem renunciar a qualquer de seus aspectos.
Miguel de Unamuno y Jugo nasceu em Bilbao, no País Basco, em 29 de setembro de 1864. Depois de freqüentar o Instituto Vizcaino de Bilbao, ingressou na Universidade de Madri em 1880 e em quatro anos doutorou-se em filosofia e letras. Seis anos depois obteve a cátedra de língua e literatura gregas da Universidade de Salamanca, da qual foi nomeado reitor em 1901.
Seus primeiros textos importantes foram Sobre el casticismo (1895), ataque ao tradicionalismo vazio, e o romance histórico Paz en la guerra (1897). Essas obras já indicavam suas preocupações fundamentais: a meditação sobre a imortalidade, definida como "a questão humana", e a reflexão em torno da essência nacional espanhola, tema comum à chamada "geração de 98", que lhe inspirou livros como De mi país (1903), Vida de Don Quijote y Sancho (1905) e El porvenir de España (1912). Em busca de respostas a suas inquietações, Unamuno escreveu o tratado filosófico Del sentimiento trágico de la vida en los hombres y en los pueblos (1913), que mostra a influência do dinamarquês Søren Kierkegaard, considerado, tanto quanto Unamuno, precursor do existencialismo. Tese fundamental da obra era a afirmação da incapacidade da razão para apreender o "homem de carne e osso", único objeto possível da filosofia.
A oposição à monarquia de Afonso XIII e ao regime autoritário de Miguel Primo de Rivera custou a Unamuno a destituição do cargo de reitor em 1914, o desterro para a ilha de Fuerteventura em 1923 e, posteriormente, o exílio na França até 1930. Nessa fase ele desenvolveu intensa atividade criativa e continuou a se manifestar pelos jornais contra a ditadura.
O romance foi o gênero que melhor serviu de veículo ao pensamento de Unamuno. Enquanto em Niebla (1914; Névoa) ele explorou os limites entre a ficção e a realidade, em Nada menos que todo un hombre (1916), Abel Sánchez (1917) e La tía Tula (1921) o autor soube aliar a análise psicológica e a crítica dos princípios da moral convencional. Poeta classicista em El Cristo de Velázquez (1920), De Fuerteventura a París (1925) e outros livros de poemas, o escritor mostrou-se autor dramático de complexidade conceitual em Fedra (1921) e El otro (1926). Unamuno publicou ainda outra obra filosófica, La agonía del cristianismo (1925), que acentua o valor da fé em Cristo como garantia da ressurreição "de corpo e alma".
Com a instauração de um governo republicano na Espanha em 1931, o escritor retornou ao país e foi eleito deputado. Reconduzido ao cargo de reitor de Salamanca no mesmo ano, Unamuno foi novamente destituído da função após desavir-se com o regime do general Franco. A melancolia de seus últimos anos ficou patente no romance San Manuel Bueno, mártir (1933), sobre um sacerdote que perde a fé e finge conservá-la para não destruir a crença dos fiéis. A eclosão da guerra civil espanhola em 1936 fez com que, tomado pelo pessimismo, Unamuno passasse os últimos dias mergulhado em amargura. Unamuno morreu em Salamanca em 31 de dezembro de 1936.