As idéias políticas do filósofo e escritor francês Rousseau, voltadas contra as injustiças da época, repercutiram nos destinos da revolução francesa de 1789. Sua negação do racionalismo progressista, no entanto, somada ao intimismo confessional e à apologia dos instintos e da integração com a natureza, abriu caminho para a estética do romantismo, o que o situa como pré-romântico na evolução literária.
Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra, Suíça, em 28 de junho de 1712. Após a infância em ambiente calvinista, emigrou em 1728 para Turim, Itália, e se converteu ao catolicismo. Viveu com Madame de Warens em Chambéry, na França, de 1733 a 1740, período em que se tornou um ávido leitor e começou a escrever. Em 1742 foi para Paris em busca da fama e da fortuna, mas durante anos não obteve êxito. Na Academia de Ciências, apresentou um projeto para uma nova notação musical, o qual foi recusado. De 1743 a 1744 trabalhou como secretário do embaixador da França em Veneza. De volta a Paris, no começo de 1745, iniciou sua ligação com Thérèse Levasseur, jovem criada que lhe deu cinco filhos e com a qual se casou, em 1768, numa cerimônia civil.
Nas décadas de 1740 e 1750, Rousseau se dedicou à música com especial interesse. Das obras que compôs, destacam-se a ópera-balé Les Muses galantes (1745; As musas galantes) e a ópera-cômica Le Devin du village (1752; O adivinho da aldeia), montada com sucesso em Fontainebleau. Na polêmica entre a música francesa e a música italiana, optou pela última, ou seja, a melodia "natural" contra a harmonia, que lhe parecia invenção bárbara. Expressou tais idéias em sua Lettre sur la musique française (1753; Carta sobre a música francesa).
Antes de 1750, Rousseau era conhecido apenas como músico. Nesse ano, seu Discours sur les sciences et les arts (Discurso sobre as ciências e as artes), que escreveu incentivado pelo amigo Denis Diderot, respondeu à questão proposta em concurso pela Academia de Dijon: se o progresso na cultura havia contribuído para depurar os costumes. O ensaio de Rousseau negava a hipótese, mas deu-lhe o primeiro prêmio, além de uma fama polêmica por atacar as artes como instrumentos de propaganda e fontes de maior riqueza para os ricos. A contestação da sociedade tal como estava organizada foi também o tema de seu Discours sur l'origine de l'inegalité parmi les hommes (1755; Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens), em que vê a desigualdade e a injustiça como frutos da competição e da hierarquia mal constituída. No ensaio, o autor afirma que a organização social corrompe a natureza humana e lhe sufoca o potencial.
Rousseau obteve muito sucesso com o romance epistolar Julie: ou, La Nouvelle Heloïse (1761; Julie: ou A nova Heloísa), que exalta o direito da paixão, mesmo ilegítima, contra a hipocrisia da sociedade. Suas obras mais discutidas surgiram no ano seguinte: Du contrat social (1762; Do contrato social) e Émile: ou, De l'éducation (1762; Émile: ou Da educação). A primeira é a utopia política, que propõe um estado ideal, resultante de consenso e que garanta os direitos de todos os cidadãos. Já Émile é a utopia pedagógica, na qual, em forma romanesca, Rousseau imagina a educação de um jovem. Para ele o ensino deve visar mais a capacidade de discernir do que o acúmulo de conhecimentos, e deve fundar-se na experiência em decorrência de um processo espontâneo e em contato com a natureza, e não na racionalização.
O Parlamento de Paris condenou tanto Du contrat social quanto Émile, que considerou repleto de heresias religiosas. Já afastado de Diderot e dos demais enciclopedistas por não compartilhar de seu racionalismo, Rousseau foi forçado a se exilar na Suíça, pois havia uma ordem de prisão contra ele. Lá encontrou novas dificuldades e viajou para a Inglaterra, onde o filósofo David Hume o acolheu. No ano seguinte, desentendeu-se também com este e regressou incógnito à França.
Para justificar-se, ante os ataques a que esteve exposto, Rousseau iniciou suas Confessions, publicadas postumamente em 1782, na qual enfoca o problema da sinceridade absoluta. A inovação causou celeuma pelos detalhes escabrosos, mas marcou profundamente, em seu esforço de auto-análise, os autores românticos. Também póstumas são as Rêveries d'un promeneur solitaire (1782; Devaneios de um caminhante solitário), espécie de testamento no qual o polêmico Rousseau parece reconciliado com a vida, consigo mesmo e com a natureza, por ele descrita com extrema sensibilidade. Rousseau morreu em Ermenonville, França, em 2 de julho de 1778.