Gabriel Marcel opôs-se cedo e de maneira original às tendências idealistas e racionalistas dominantes na universidade francesa no início do século XX, privilegiando a existência empírica e a intuição das repercussões internas da experiência, numa linha de pensamento dita existencialista, que ele próprio preferiu chamar "personalista".
Gabriel-Honoré Marcel nasceu em Paris, em 7 de dezembro de 1889. Assistente de filosofia aos 21 anos, deixou a universidade em 1923 para dedicar-se à música, à filosofia e à dramaturgia. Sua tese filosófica central afirma que a existência é para cada consciência uma experiência inesgotável e inexprimível, pois envolve de tal forma o homem que o impede de defini-la sem engano. Daí a distinção entre problema -- algo que está diante do sujeito e fecha-lhe o caminho -- e mistério -- algo em que o sujeito se encontra engajado e cuja essência é não estar inteiramente diante dele.
O segundo tema que empolgou Marcel foi a consciência do outro. "Quanto mais faço de meu interlocutor alguém exterior a mim, mais me torno exterior a mim mesmo." É no diálogo entre esses dois "outros" que o homem se descobre e se afirma como pessoa. O terceiro campo de aprofundamento foi o destino humano vivido em comunidade, "a consciência de participar em conjunto de uma aventura única, de um certo mistério central e indivisível". A forte sensação de partilhar um destino mortal levou-o à metapsíquica. Mas para esse católico apostólico romano, convertido aos quarenta anos, é na fé ao Deus do Evangelho que se consumam os mistérios do trágico destino humano.
De suas obras literárias destacam-se Le Coeur des autres (1921; O coração dos outros), Rome n'est plus dans Rome (1951; Roma já não está em Roma) e a peça Le Monde cassé (1933; O mundo despedaçado); entre as obras filosóficas, Journal métaphysique (1914-1923; Diário metafísico) e Être et avoir (1968; Ser e ter). Marcel morreu em Paris, em 8 de outubro de 1973.