Erasmo de Rotterdam
(1466 - 1536)

Sempre envolvido em polêmicas religiosas por defender idéias muito liberais para a igreja de seu tempo, Erasmo rejeitou também a Reforma de Lutero, de quem divergia sobre a questão do livre-arbítrio.

Desidério Erasmo, conhecido em todo mundo por Erasmo de Rotterdam, nasceu em Rotterdam, atualmente nos Países Baixos, provavelmente em 27 de outubro de 1469, filho natural de um padre. Não se conhece seu nome de família, mas recebeu boa educação. Estudou latim, leu os escritores da antiguidade romana e adquiriu vasta erudição de humanista e filólogo. Ingressou no convento dos agostinianos em Stein e ordenou-se, mas, não conseguindo suportar a vida monástica, partiu para a França como secretário do arcebispo de Cambrai. Em 1517 foi dispensado dos votos.

Viajando constantemente, Erasmo viveu em vários países europeus. Ganhou fama de erudito desde a permanência no Colégio Montaigu da Universidade de Paris, época em que um de seus discípulos o convidou a visitar a Inglaterra. Estudou grego em Oxford e tornou-se amigo dos humanistas John Colet e Thomas More. Fez várias viagens pela Europa entre 1500 e 1506 e depois instalou-se na Itália, onde permaneceu até 1509. Em Roma freqüentou o círculo intelectual do papa Júlio II, mas confessou em carta a um amigo que viu horrorizado a entrada do papa em Bolonha em verdadeiro triunfo militar. Convencido de que o belicoso Júlio era sucessor de César e não de Cristo, a expansão do poder papal alertou-o para a necessidade de uma reforma na igreja. Entre 1517 e 1521 morou em Louvain, Bélgica, antes de fixar-se em 1522 em Basiléia, Suíça, onde trabalhou na tipografia de Johann Froben, também humanista. Temendo excessos do triunfo reformista na Suíça, foi para Freiburg, Alemanha, e só regressou a Basiléia no fim da vida.

Dogmatismo e Humanismo
Os desentendimentos de Erasmo com o dogmatismo teológico começaram cedo, ainda em Paris, no Colégio Montaigu. Com outros humanistas, opôs-se então ao obscurantismo e à intolerância das ordens religiosas e tornou-se uma das figuras centrais do humanismo na Renascença. Sem ter sido a rigor um filósofo, exerceu, por suas idéias e sobretudo por seu modo de expressá-las, influência decisiva em seu tempo. A postura liberalizante afastou-o de vez de todo dogmatismo e inclinou-o a uma posição reformista moderada, na qual abria espaço à tolerância como a única base viável para transformar a igreja.

Como erudito, destacou-se com a publicação dos Adagia (1500; Adágios), notável coletânea de mais de 800 provérbios. Sua posição crítica diante da doutrina cristã firmou-se com Enchiridion militis christiani (1502; Manual do cristão militante). Contra as concepções cerimoniais e vazias, advogava o retorno a Cristo e aos apóstolos. O ataque decisivo aos resíduos supersticiosos no ritualismo veio com o famoso Encomium moriae (1509; Elogio da loucura), escrito na Inglaterra, na casa de Thomas More.

A palavra loucura adquire, na obra de Erasmo, uma dimensão plena de ambigüidade e uma rara elasticidade. Trata-se da loucura como energia criativa nas ações humanas. Sua crítica ao escolasticismo é evidente, ao evocar o absurdo de questões teológicas que não seriam entendidas pelos apóstolos. Cruzam-se dois temas: o da loucura sã, que é sabedoria de vida, e o do saber enganoso, que é mera loucura (o de certa escolástica ou das crendices ingênuas). As ênfases diferem segundo as situações referidas, numa fina ambigüidade, o que explica todo seu fascínio. Teólogos dogmáticos reagiram, mas foram minoritários. O sucesso do livro fez de Erasmo um dos líderes da comunidade intelectual de seu tempo.

Desde cedo Erasmo concebera o plano de editar os estudos de são Jerônimo sobre o Antigo e o Novo Testamento, tarefa iniciada em 1512 e concluída com a publicação em 1516. No mesmo ano, publicou o texto grego do Novo Testamento, acrescentando-lhe notas e uma tradução latina que em grande parte divergia da Vulgata. Essas duas obras consolidaram sua fama. A tradução se revelaria até mais radical em seus efeitos do que o Elogio da loucura, pois estabeleceu a base de novas traduções e inaugurou os estudos bíblicos de caráter filológico.

A relação de Erasmo com a Reforma luterana foi complexa. Era favorável a mudanças na igreja, mas discordava dos que enfatizavam a dependência do arbítrio humano à vontade divina e entre eles incluía Lutero. Sua obra De libero arbitrio (1524; Do livre- arbítrio), foi respondida com violência por Lutero, e disso resultou a ruptura entre ambos. Erasmo tampouco era favorável a teses naturalistas extremas. Dividia-se entre as aspirações reformistas de uma "filosofia de Cristo" e o desejo de conservar a organização da igreja. Nem sempre foi compreendido na busca de um novo equilíbrio, mas sua influência se ressalta em dois pontos: o da manifestação das idéias em novas formas e o da defesa de uma nova e precisa exegese dos textos bíblicos, com critérios histórico-filológicos rigorosos.

O Erasmo erudito teve grande ressonância na época, mas o que chega a nossos dias é o satírico que, inspirado no romano Luciano, produziu uma breve obra, o Elogio da loucura, que ainda hoje se abre pelo simples prazer da leitura. Morreu em Basiléia, Suíça, em 12 de julho de 1536.
     
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