Surgido a princípio como filosofia ética de caráter pragmático voltada para a reforma da sociedade e a distribuição de justiça equitativa para todos os homens, o utilitarismo converteu-se em princípio metodológico das ciências sociais.
Utilitarismo é a doutrina filosófica que admite a utilidade como valor supremo da ação moral, entendendo-se como útil tudo o que serve à vida e sua conservação, mediante acréscimo de felicidade e bem-estar. A partir da hierarquia dos prazeres mais elevados e espirituais, duradouros e nobres, o utilitarismo visa a atingir, em dada ação e determinada situação, o máximo possível de felicidade, não só para o agente, mas para o conjunto da humanidade.
O princípio de validade dessa doutrina é a identificação entre bem e felicidade, assim como a avaliação de uma ação não por sua natureza intrínseca, ou pelos propósitos de quem a realiza, mas por seus resultados. Desse modo, entre todos os atos possíveis para um indivíduo numa situação específica, o ato justo é o que proporciona o maior bem possível ao maior número de pessoas.
Muitas das idéias utilitaristas já apareciam prefiguradas no antigo hedonismo grego, no empirismo britânico e na obra de autores iluministas do século XVIII, como o italiano Cesare Beccaria e o francês Claude-Adrien Helvétius. A primeira formulação da doutrina, no entanto, foi elaborada pelo britânico Jeremy Bentham, no tratado An Introduction to the Principles of Morals and Legislation (1789; Introdução aos princípios da moral e da legislação), cujas idéias foram desenvolvidas por uma escola de pensadores do século XIX à qual, em sentido histórico, se restringe a designação "utilitarista".
Baseado numa psicologia simplista, Bentham convenceu-se de que a natureza dos homens é regida pelos princípios do prazer e da dor, e por aspirações ligadas aos desejos e necessidades naturais. Para unir a felicidade pessoal à felicidade geral há um critério moral -- pois o objetivo de toda moral é a felicidade -- que consiste em medir a qualidade de uma ação por suas conseqüências, próximas ou distantes, sobre o conjunto da vida individual e da vida em sociedade.
Bentham considerou que o princípio da utilidade podia proporcionar critério científico para a reforma da sociedade, já que o sumo bem seria a soma dos bens dos indivíduos. Estabeleceu um índice de valoração dos prazeres por meio de princípios quantitativos empíricos, como a densidade e o alcance, isto é, o número de pessoas afetadas.
Um dos principais seguidores de Bentham foi o pensador James Mill, cujo filho, John Stuart Mill, sintetizou a doutrina utilitarista no ensaio Utilitarianism (1863; Utilitarismo). J. S. Mill, no entanto, introduziu modificações no "radicalismo filosófico" de Bentham ao distinguir entre prazeres morais, mais elevados, e os meramente convenientes ou físicos, além de classificar hierarquicamente as utilidades em função de princípios morais intuitivos. A noção de liberdade individual como a primeira das utilidades sociais foi idéia fundamental de J. S. Mill no tratado que influenciou o liberalismo, On Liberty (1859; Sobre a liberdade).
Quando, em 1874, o filósofo britânico Henry Sidgwick publicou The Methods of Ethics (1874; O método da ética), o utilitarismo já se encontrava assentado como importante doutrina moral que deixou forte impressão no pragmatismo americano e em outras escolas caracterizadas pela atenção aos aspectos práticos da filosofia. As teses do utilitarismo foram retomadas também pela teoria econômica na doutrina subjetivista do valor, e economistas posteriores desenvolveram suas doutrinas em termos herdados dessa teoria. O utilitarismo proporcionou também base metodológica para o estabelecimento de critérios de decisão formal na matemática e na estatística e, de uma ou outra forma, permaneceu presente no conjunto das ciências sociais.