A realidade, como uma paisagem, pode ser vista a partir de inúmeras perspectivas, todas verdadeiras. A única perspectiva falsa, segundo a filosofia perspectivista, é exatamente a que pretende ser única. A ingenuidade das filosofias estáticas consistiria em ignorar que interpretam o mundo como se o filósofo não estivesse situado no tempo e no espaço, mas fosse "uma pupila anônima aberta para o universo".
O termo perspectivismo designa a corrente filosófica para a qual o conhecimento é, acima de tudo, apreensão do objeto a partir do ponto de vista, ou perspectiva, do sujeito. O termo foi empregado pela primeira vez por Gustav Teichmüller, em 1882, mas o conceito já transparecia na Monadologia (1714) de Leibniz. Ele observou que o ponto de vista de cada mônada finita -- entidade psíquica em que o corpóreo se baseia -- dá lugar a universos aparentemente distintos, que são perspectivas de um mesmo universo.
Também Nietzsche considera que a consciência, por estar condicionada ao lugar que ocupa no espaço e a certo momento no tempo, assimila um mundo aparente determinado pelas necessidades do sujeito, incapaz de apreender a objetividade. No pensamento contemporâneo, Georg Simmel, influenciado por Nietzsche, sustenta que, para os indivíduos e as espécies, a verdade corresponde a sua maneira de ser, pois suas representações do real constituem a resposta adequada as suas necessidades. Embora limitada ao ponto de vista do sujeito, cada verdade é válida nos limites de sua apreensão.
O espanhol Ortega y Gasset sustenta que o sujeito seleciona o que deseja conhecer, sem no entanto deformar a verdade. A realidade apresenta inúmeras perspectivas, todas elas verdadeiras e inerentes à condição humana, pois a superação da perspectiva sugeriria a possibilidade de considerar as coisas de um ponto de vista absoluto inexistente. A questão do perspectivismo foi retomada por Sartre, a propósito do imaginário, e por Merleau-Ponty, a respeito da fenomenologia da percepção.