Admitem-se como personalistas, em geral, as doutrinas que situam a pessoa como centro da concepção do mundo e da vida, opondo-a como unidade autônoma e inconfundível diante da natureza e das coisas.
Personalismo, na acepção mais antiga, significa a crença num Deus pessoal, transcendente ao mundo, em oposição ao panteísmo, que o confunde com o mundo. Nesse sentido, o vocábulo foi usado pela primeira vez por Friedrich Schleiermacher em Reden an die Gebildeten (1799; Discursos aos homens cultos). No mesmo sentido empregou-o Ludwig Feuerbach em Das Wesen des Christentums (1841; A essência do cristianismo). Gustav Teichmüller adotou-o também, não só nesse sentido, como em outro mais amplo, dentro de um certo perspectivismo metafísico, no qual o "eu" era entendido como ponto de união e de convergência de todo o ser. Nos países de língua inglesa, atribui-se a John Grote, defensor do neo-idealismo, haver tomado o personalismo como sinônimo de idealismo ou espiritualismo. George Holmes Howison, nos Estados Unidos, defendeu um idealismo personalista contrário ao idealismo absoluto e ao impersonalismo em geral. A mesma posição metafísica foi assumida por Borden Parker Bowne em 1908.
Coube ao francês Charles-Bernard Renouvier desenvolver toda uma metafísica personalista e criar o primeiro grande sistema personalista da história da filosofia. Uma de suas últimas obras, publicada no ano de sua morte, teve por título Le Personnalisme (1903; O personalismo) e, a partir de então, o termo passou a constar do vocabulário filosófico. Renouvier sustentava que onde não há pessoa, só pode existir coisa, como oposição radical, mas a única realidade é a da consciência, não podendo o sujeito nem o objeto serem abstraídos da experiência. Para não cair num relativismo insuperável, ele socorreu-se de dois princípios: o negativo, da contradição, e o positivo, da crença. Uma crença justificável é aquela que satisfaz a personalidade total.
Emmanuel Mounier é o mais sistemático dos personalistas franceses. Para ele, o conceito de pessoa implica a inserção coletiva e cósmica e abarca um duplo movimento: de recolhimento e de exteriorização. Mounier repudia e supera o individualismo atomista, ou seja, a idéia segundo a qual os indivíduos independem, para ser o que são, do relacionamento com os demais. A liberdade se obtém mediante escolha e implica compromisso, que é condição de uma prática fecunda. Propõe um novo humanismo, baseado numa filosofia existencial em que o "despertar pessoal" coincide com o "despertar comunitário". Essa atitude filosófica encerra a negação do individualismo, a recusa do niilismo e a rejeição do espírito corporativista.