Enunciado por Descartes e Leibniz no século XVIII, o mecanicismo clássico entrou em crise principalmente depois que as noções de estrutura, campo e função demonstraram a insuficiência das explicações baseadas na idéia da causalidade linear.
No sentido cartesiano, mecanicismo é a teoria filosófica segundo a qual os corpos se explicam por dois princípios: a matéria homogênea e o movimento local. Sendo a matéria definida como inerte, um dos problemas do mecanicismo seria explicar como nela se instala o movimento, problema que remete à questão da causalidade. Revelou-se nessa análise uma incompatibilidade entre a concepção mecanicista da matéria e a idéia de causas finais.
Leibniz, ainda no século XVIII, e Bergson, no século XX, tentaram resolver essa contradição. Evidenciaram-se nesse processo as duas grandes dificuldades do mecanicismo: determinar o modo de operar das causas eficientes e definir as leis do movimento.
Friedrich Lipsius e Karl Sapper enunciaram, com esse propósito em vista, quatro princípios:
(1) a evolução da natureza não obedece a finalidades;
(2) a evolução da natureza é uma evolução passiva;
(3) os fenômenos naturais são compreendidos como fenômenos cumulativos; e
(4) os últimos elementos da realidade apresentam-se como grandezas meramente quantitativas.
Em biologia, o mecanicismo encontrou oposição no vitalismo, no neovitalismo e no organicismo. Sua tese central estabelece que o organismo se assemelha a uma máquina de grande complexidade. Assim, para o mecanicismo radical, a biologia não passa de um capítulo da mecânica. No final do século XX já se admitia que essa posição extrema não se deve propriamente a Descartes, mas a uma interpretação de seus princípios por parte dos que se afastaram da concepção dualista do homem, segundo a qual o processo vital estaria subordinado às leis da mecânica, enquanto a alma seria um princípio superior expresso pelo pensamento.
As concepções mecanicistas influenciaram consideravelmente a psicologia moderna, em especial a corrente denominada behaviorismo, ou estudo experimental do comportamento. Foram, no entanto, alvo de crítica especialmente dos psicólogos de formação fenomenológica, como Carl Rogers.