Ser


A reflexão em torno do ser constitui um dos temas centrais da tradição filosófica ocidental. Os diferentes significados que se atribui a esse conceito, no entanto, levaram seus estudiosos a adotarem os mais variados enfoques.

Do ponto de vista gramatical, o termo "ser" pode ser entendido como verbo ou como substantivo. A forma verbal tem dois sentidos possíveis: de existência, como em "algo é", ou de ligação, como em "algo é x". O substantivo refere-se a uma essência, ao ser intrínseco de algo. Ainda que esses significados tenham estreitas relações entre si, a filosofia tende a privilegiar a última acepção e a definir o ser de modo geral como o princípio constitutivo único e a razão fundamental da realidade.

O filósofo grego Parmênides, no final do século VI a.C., formulou pela primeira vez a noção de um ser único, homogêneo, infinito e imutável, que conteria em si tanto a ordem ideal quanto a material. Com base nesse conceito, ele negou a existência do "não-ser" -- o nada -- e do movimento ou da transformação dos fenômenos tais como percebidos pelos sentidos. Essa tese foi combatida pelos atomistas, que defenderam a existência de um "não-ser" e postularam uma concepção dinâmica da realidade. Platão retomou-a no século V a.C. Embora tenha admitido a existência de movimento no plano dos sentidos, Platão considerou o mundo sensível uma cópia imperfeita da ordem imutável das idéias ou essências transcendentes, partícipes da natureza do ser.

A fim de resolver essa controvérsia, fundamentalmente centrada em torno da oposição entre "permanência" e "transformação", Aristóteles enfatizou a dupla natureza do significado do ser: por um lado, o fato de ser é a única característica comum a todas as coisas; por outro, concebe-se o ser como princípio essencial da realidade, sua própria "razão de ser". De acordo com o primeiro aspecto, só é cognoscível aquilo que se manifesta no existente; de acordo com o segundo, o ser é imutável e eterno. Tal concepção foi resgatada pela escolástica medieval mediante a distinção entre ens ("ente", em latim) e esse ("ser", em latim). O primeiro termo alude ao que a realidade é, e o segundo, à causa de que a realidade seja.

A partir do século XVII a polêmica sobre a natureza do ser assumiu outro enfoque e passou a se concentrar na afirmação ou na negação da existência real de uma substância, ou princípio fundamental da realidade. Assim, os filósofos racionalistas e idealistas tenderam a postular tal existência, enquanto os pensadores empiristas, positivistas e, em geral, todos aqueles que se filiaram a abordagens materialistas, consideraram que noções como "ser" ou "substância" eram meras especulações abstratas.

No século XX, a progressiva rejeição às postulações metafísicas fez com que esse problema fosse aos poucos abandonado. Várias correntes passaram a considerar a chamada "pergunta pelo ser" como uma falsa questão. O filósofo alemão Martin Heidegger, no entanto, resgatou-a na década de 1920, ao considerar o ser como o problema central de toda filosofia e ponto de partida para a compreensão plena da existência humana.

     
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